sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Alma Cabocla





Na casinha branca ao pé da serra, a vida segue em descompasso, numa tranqüilidade só. Dona Zica côa o café, e um cheiro gostoso invade toda a casa. No fogão à lenha as labaredas parecem línguas de fogo a lamber o fundo das panelas. Seu Toninho homem franzino se apressa se põe de pé, é hora de ir pra lida. Lá no quintal Quinzé o filho mais velho alimenta os gansos, os porcos, as galinhas, enfim toda a criação. Todas tem seus afazeres, suas obrigações, como diz seu Toninho. Seguem todas pra suas carroças, a caminho da roça. Tristão um dos cavalos, como sempre esta cabisbaixa, e não por acaso ganhou esse nome. Tem ao seu lado na cela, o cavalo tenente. Esse sim cheio de pose, nariz empinado. O orgulho não teria melhor lugar para se hospedar. São pessoas muito simples, família cabocla, porem  felizes, na sua simplicidade. Todos sorridentes, alegres, contentes mesmo. No quarto a menina Glória ainda espreguiça-se na cama. Precisa ir ao colégio, mas o frio, e os cobertores quentinhos, por pouco não a fazem faltar à aula. Num cantinho lá no quintal, banzé o cachorro da família, inicia  seus latidos de bom dia, e corre cozinha adentro, para acomodar-se aos pés de dona Zica. Quer aproveitar o calor do fogão à lenha e a presença da matriarca da família. Inah a criada da casa, prepara as trouxas de roupas sujas para lavar, cantarolando antigas canções. Até que ela é bem afinada, canta como uma cotovia. Inês a afilhada de dona Zica, prepara seu pequeno Pedro, ela também precisa ir à roça. Pedrinho criança de apenas 3 aninhos fica aos cuidados de dona Zica e de Inah.Inês é mãe solteira,o pai a colocou para fora de casa quando soube do acontecido.É homem rígido,de coração rude,das antigas.Dona Zica comovida com a má sorte da "moça"deu-lhe abrigo.Inês é sem estudo,mal sabe  contar até 10.Contentou-se com seu destino,e agradece à Deus por aquele teto,onde pode criar seu menino.Todos  começam a rotina dos seus dias, com um largo sorriso no rosto.Com simpatia, alegria,  e cortesia ,a vida fica menos Amarga. Segue a família todos seus afazeres,seus compromissos,sua rotina difícil,árdua,porém
 a  alma cabocla para eles é motivo de orgulho. Pois mesmo com o pouco que eles têm, são felizes, estão sempre rodeados de amigos, vizinhos, compadres. Pessoas que  amam e por quem são amados também. Ali não se vê riqueza, mas pra eles  a vida é uma beleza. Sem muito luxo, porem cheia de prazer. Na casinha branca ao pé da serra, vive-se um dia de casa vez, sem relógio, sem calendário, sem agenda. Lá a vida é como a mais bela prenda, inconfundível, descomunal, de felicidade sem igual.





Um comentário:

  1. E mesmo na prosa a poesia vem que vem... Linda estória amiga.
    Bjusss

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